Tenho medo do bocejo demasiado longo;
Que quebra o rítimo do passo premeditado;
Que desfaz o laço e perde o compasso;
Tenho medo de não deixar legados;
De não encontrar abrigo para meu inquieto espírito;
Nem repouso para meu efêmero corpo;
Tenho medo da intensidade reprimida;
Da cumplicidade falida;
Diante da companheira escolhida;
Do beijo insosso;
Do sexo pudico;
Da falta de tempo;
Da falta de retorno;
Do entusiasmo sucumbido;
Frente aos ponteiros de um insaciável relógio;
Que nos mata a cada segundo;
Tenho medo de não poder falar;
De não poder me expressar;
De ser coagido;
Naquilo que não acredito;
De tiver que dizer sim enquanto penso em não;
E ver pedaços de mim caírem e se quebrarem no chão;
Tenho medo da coisa morna;
Que nunca esquenta e jamais aquece;
Da coisa sem vida;
Sem êxtase;
Da falta de magia;
O fim da poesia;
Tenho medo das coisas estáticas;
Daquilo que não se move;
Da inércia demasiada;
Que não traz o novo;
Nem reinventa o velho;
Tenho medo de não poder fazer melhor ;
Aquilo que faço;
De não ousar naquilo que poderia;
Como ver um pouco mais;
Ouvir um pouco mais;
Sentir um pouco mais;
Experimentar um pouco mais;
Ser paciente um pouco mais;
E é claro viver sempre mais;
Tenho medo de ter que ler os mesmos livros;
De ter que ouvir as mesmas músicas;
E contemplar as mesmas cenas;
Por falta de criação ou opção;
Tenho medo de repetir os mesmos erros;
De não se transformar naquilo desejei;
E sentir saudades de um tempo que supostamente desperdicei;
E não me perdoar por ter tentado;
Tenho medo desta triste sina;
De tentativas frustradas;
E sonhos dissolvidos;
Por um câncer chamado ansiedade;
Que se alastra feito metástase;
Nas mãos trêmulas;
No coração acelerado;
No peso sobre o peito;
Na respiração alterada;
De auto-sabotagens;
E condenações sumárias;
Tenho medo de ser esquecido;
Antes que compreendido;
De não encontrar terra fértil;
Para espalhar meu esplendedor;
De amante eterno;
De energia canalizada a mulher amada;
E mostrar meu amor;
Tenho medo de não poder compartilhar;
Tudo que sei;
Tudo que aprendi;
Tudo que sonhei;
O amor que desejei;
Tenho medo de ter que conviver comigo;
E ter o vento como meu eterno amigo
E como saída;
Se expressar em medíocres poesias;
Imaginando como tudo seria;
Sem essas perturbadoras fobias;
E se um dia disserem;
Que meus medos são frutos de utopias;
Diria eu como um antigo poeta;
Sou feito da mesma matéria que os sonhos são feitos;
Mas não tenhas medo;
São só palavras;
De alguém que precisa compartilhar uma vida;
Destes medos todos meus;
Eu diria ainda;
Quais são os seus?